quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O Nexus Biodiversidade, Florestas e Desenvolvimento



por Larissa Carolina Loureiro Villarroel


A aceleração da perda de biodiversidade tem contribuído para o aumento do interesse pelo nexus florestas-biodiversidade-desenvolvimento nos últimos anos mundialmente, sobretudo quando exploradas as discussões sobre o papel das florestas como elemento de estabilização do sistema climático global e seu papel em processos adaptativos de comunidades vulneráveis.
Trabalho recente da WWF, o Living Planet Index (Índice do Planeta Vivo), que monitora quase 4.000 populações de fauna silvestre mundial, aponta para uma queda geral de 27% nas tendências populacionais entre 1970 e 2005, movimento registrado conforme Gráfico de perda de biodiversidade abaixo.

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Verifica-se que os sistemas biodiversos estão expostos a várias formas de perturbação que ameaçam a sua integridade e capacidade de reprodução. Dentre as ameaças que requerem medidas urgentes de gestão ou proteção se encontram a conversão de florestas para o desenvolvimento de atividades agrícolas e outros usos, a extração ilegal e não manejada de madeira, o tráfico de animais e componentes genéticos e as alterações provocadas pela mudança do clima.
            As florestas são importante elemento na manutenção e promoção da vida humana e do planeta. Os estoques florestais são responsáveis pelo fornecimento de serviços ambientais essenciais ao suporte à vida (ciclagem de nutrientes, produção primária – fotossíntese e formação do solo), abastecimento (alimentos, ciclo hidrológico, produtos madeireiros e não-madeireiros), regulação (clima, doenças, diversidade biológica, entre outros).
            Além disso, boa parte dos setores produtivos está direta ou indiretamente ligada ao binômio biodiversidade e florestas. Destacam-se a indústria de base, que tem grande dependência do carvão vegetal como fonte energética e a agricultura, que depende dos serviços ecossistêmicos oferecidos pelas florestas, tornando a base florestal componente vital para estruturação da organização social humana sob o atual sistema econômico. Há uma tendência global de se considerar o valor de ativos ambientais e a necessidade de incorporar os mesmo a indicadores econômicos.
Até muito recentemente, os serviços ambientais oferecidos pelos componentes florestais e de biodiversidade eram considerados bens públicos e explorados como um produto sem valor econômico, levando a uma distorção da realidade econômica e destruição de parte considerável do pool de biodiversidade mundial. Inclusive, levando a alguns cientistas a indicarem que a Terra passa pelo 6º movimento de extinção em massa; o primeiro de causa puramente antropogênica.
Há consenso na comunidade científica de que o período recente da história do planeta, denominado por alguns de Antropoceno, tem sua maior característica reforçada a partir do século XVIII: intensificação dos impactos das atividades humanas sobre o clima (link para o texto da Cris) e funcionamento dos ecossistemas terrestres.
Instrumentos como o REDD+ ( Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), criado para recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados no combate ao desmatamento e à degradação florestal e na promoção do aumento de cobertura florestal, e a ampliação de Programas voluntários e governamentais de pagamentos por serviços ambientais podem ser iniciativas importantes para promoção da proteção da biodiversidade, das florestas, além de terem a possibilidade de distribuir benefícios sociais para populações tradicionais.
Ainda não há consenso sobre a efetividade de instrumentos econômicos para a promoção de uma agenda de desenvolvimento sustentável no setor florestal, mas esse parece ser um campo fértil para a exploração de novas abordagens de políticas públicas que busquem a convergência para o binômico meio ambiente e desenvolvimento.           
Neste sentido, os governos de países desenvolvidos e em desenvolvimento devem mudar seu paradigma de desenvolvimento econômico, para um desenvolvimento que seja equilibrado e inclusivo.Reconhecer o valor das florestas e da biodiversidade enquanto capital natural e atribuir valor econômico é o primeiro passo para essa mudança de paradigma.
Investimentos estratégicos em uma economia verde que fomente o crescimento do setor de florestas e biodiversidade são oportunidades para as comunidades locais; bem como a manutenção e ampliação de iniciativas e programas de conservação, tais como a ampliação da criação de áreas protegidas, como forma de garantir a preservação de espécimes e dos sistemas biodiversos.



Saiba mais:


Kolbert, Elizabeth. The Sixth Extinction: an unnatural history. New York: Henry Holt and Company, 2014. 319p.
McDermott, Constance; Cashore, Benjamin William; Kanowski, Peter. Global Environmental Forest Policies: An International Comparison,2010.393p.

Heiman, J; Hoeflich, V. O Processo de Descentralização da Gestão Florestal Brasileira a partir da Lei de Gestão de Florestas Públicas - Lei 11.284/06. FLORESTA, Curitiba, PR, v. 43, n. 3, p. 453 - 462, jul. / set. 2013 2013.

SRINIVASAN, U.T. et. al. 2008. The debt of nations and the distribution of ecological impacts from human activities. PNAS


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