quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Sustentabilidade Urbana


Foto: Favela da Rocinha - RJ. Fonte



por Moema Guimarães Morgado





O crescimento da população mundial, de forma desordenada e desenfreada, trouxe como consequência uma concentração exacerbada das pessoas nas cidades, gerando perda da qualidade de vida e o declínio da saúde ambiental nas grandes metrópoles.
Somos aproximadamente 7 bilhões de pessoas no planeta, e estima-se que, em 2050, a população seja de 9 bilhões de pessoas, sendo que 65% estarão vivendo nas cidades [1]. Atualmente, 32% da população urbana (924 milhões de pessoas) vivem em favelas e os dados apontam que em 2020 a população de moradores em favelas seja de 1,4 bilhão de pessoas [2]. Esses indicadores chegam a ser assustadores pois representam o aumento da desigualdade, da pobreza e da violência, que, junto com a degradação dos recursos naturais apontam para um quadro triste que clama por novas perspectivas e mudanças de paradigmas no que tange ao planejamento urbano.   

Foto: Favela de Paraisópolis - SP. Fonte

Um dos maiores problemas das cidades é a violência [3]. Hoje se sabe que a criminalidade não pode ser combatida com aumento de balas e polícia, tampouco com a diminuição da densidade populacional. É preciso repensar o planejamento urbano e os princípios de reurbanização. Se trouxermos para a atualidade o pensamento de Jane Jacobs concordaremos que as ruas e calçadas de uma cidade são seus órgãos mais vitais. Assim como as ruas de uma cidade têm finalidades além do tráfego de veículos, as calçadas têm outros papéis além de acolher pedestres. Uma rua movimentada consegue garantir a segurança enquanto uma rua deserta é uma oportunidade à violência. Se uma rua∕ avenida∕ calçada possui em seu entorno edifícios com uma boa diversidade de usos, a calçada por si só funcionará como uma barreira ao crime. Havendo movimento de pessoas diversas, a todo momento do dia e da noite, o “sistema de vigilância cidadã” combate a criminalidade e a violência na cidade [4].
Foto: Favela Manguinhos - RJ - © Marcelo Sayão. Fonte
A cidade de Medellín, na Colômbia, tornou-se um exemplo mundial ao criar uma nova trama urbana tendo a cultura como eixo de sua ação. Durante anos, Medellín manteve altos índices de violência e desigualdade, sendo considerada a cidade mais violenta do mundo em 1991. Em 2010, a cidade havia diminuído consideravelmente suas taxas de violência e de desigualdade, por meio de estratégia de investimentos para os bairros marginalizados, a qual envolveu um plano para integrar as áreas informais da cidade no tecido urbano. Um dos aspectos que cabe ressaltar nesse plano, chamado de urbanismo social, foi a criação de Parques Biblioteca, que nada mais são que grandes centros culturais construídos a partir de projetos arquitetônicos impactantes, os quais integram num mesmo espaço público a educação, a recreação, a cultura e a arte. [5]
Outro grande problema que as cidades brasileiras enfrentam são as enchentes urbanas. As inundações que decorrem do processo de urbanização têm sua origem na ocupação de forma desordenada e impermeabilização do solo, que causa a diminuição da infiltração da água da chuva, acarretando o aumento no volume e velocidade do escoamento superficial (run off). A água da chuva, ao escoar, busca saídas pelas vias da cidade, que muitas vezes são insuficientes para abarcar a quantidade de água, quando não estão entupidas por lixo urbano e detritos. O resultado esperado é o que vemos ano após ano em cidades relativamente modernas, como São Paulo e Rio de Janeiro. As enchentes e inundações fazem parte da realidade de boa parte das cidades brasileiras, revelando também aspectos precários de saneamento e gestão dos resíduos sólidos. Tais eventos representam grandes desafios para uma boa governança, pois exigem um planejamento que concilie desenvolvimento com gestão ambiental do meio urbano. (Entre Rios)
Foto: Enchente em São Paulo. Ale Vianna/News Free/AE. Fonte

Por fim, não podemos deixar de mencionar os problemas relacionados à questão da mobilidade urbana, a qual clama por soluções urgentes. Tornou-se insustentável, principalmente nas grandes metrópoles, o padrão de mobilidade centrado no transporte motorizado individual. Certas cidades já não comportam a quantidade de automóveis nas vias e nos estacionamentos públicos. Na medida em que o transporte público coletivo não atende a necessidade de deslocamento da população, o uso do transporte motorizado individual torna-se a saída mais fácil e rápida. Saída essa que, além ser nociva ao meio ambiente por causar paulatinamente maior degradação da qualidade do ar e contribuir para o aquecimento global, ainda compromete a qualidade de vida, devido ao aumento significativo nos níveis de ruídos, perda de tempo, degradação do espaço público, acidentes e stress. [6]

Foto: Espaço ocupado no tráfego. Fonte

Nos últimos dez anos, o uso da bicicleta vem crescendo e sendo incentivado, inclusive por políticas públicas, que passaram a planejar a malha viária urbana com ciclovias integrando pontos importantes da cidade. Algumas cidades europeias já implantaram um sistema de mobilidade que privilegia espaços para pedestres e ciclistas nas ruas. Países do norte da Europa, como a Dinamarca e a Holanda, apresentam altos níveis de utilização da bicicleta como meio de transporte. Na China, a bicicleta é o principal meio de transporte, sendo responsável por 40% dos deslocamentos urbanos. Já nos Estados Unidos, onde a dispersão do espaço urbano exige o uso de veículos automotores, menos de 1% dos deslocamentos são realizados de bicicleta.
Fica evidente que o grande desafio das cidades dos tempos atuais está em redesenhar a vida cotidiana na busca de novas maneiras de viver na coletividade, ao mesmo tempo respeitando processos naturais do ambiente e buscando formas mais sustentáveis no uso do espaço comum, transformando as cidades em espaços de convivialidade com qualidade de vida. 

Saiba mais:
Link do documentário sobre a urbanização da cidade de São Paulo:

Referências:
Acesso em 8 dez. 2015.

[2] UN-HABITAT. United Nations Human Settlements Programme. A Practical Guide to Designing, Planning, and Executing Citywide Slum Upgrading Programmes 2014. Disponível em:
http://unhabitat.org/books/a-practical-guide-to-designing-planning-and-executing-citywide-slum-upgrading-programmes/  Acesso em 8 dez. 2015.

[3] UNODC. United Nations Office on Drugs and Crime. Annual Report 2014. Disponível em: http://www.unodc.org/documents/AnnualReport2014/Annual_Report_2014_WEB.pdf Acesso em 8 dez. 2015.

[4] JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. Martins Fontes, São Paulo; 1ª edição, 2000.

[5] Sotomayor, L. Medellín: The New Celebrity? Spatial Planning in Latin America [online], August 26. 2013. Disponível em:  https://planninglatinamerica.wordpress.com/2013/08/26/medellin-the-new-celebrity/ Acesso em 8 dez. 2015.

[6] BRASIL. Ministério das Cidades. Programa brasileiro de mobilidade por bicicleta, SeMob. 2007. Disponível em: http://www.mma.gov.br . Acesso em 8 dez. 2015.

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